quinta-feira, 14 de maio de 2009

Foto do grupo DANÇANDO NO PONTO em apresentação na praça da Cantareira (Niterói-RJ) em 7 de maio

Produção do espaço urbano - algumas questões. Parte II.

LUGAR, LUGAR-COMUM E NÃO-LUGAR

A cidade é uma construção material e, sobretudo, um espaço que resulta dos modos culturais dos que nela habitam e dela participam; isto a transforma num lugar apropriado afetivamente (ainda que sujeito a representações ideologicamente constituídas).
O espaço urbano reflete modos particularizados de vida social e sociabilidades (expressos, principalmente, nos espaços públicos das ruas e praças). É, também, e como reflexo, o espaço das contradições, conflitos e ambigüidades. Um tecido social em crise acirra o caos urbano (violência, pobreza, individualismo, isolamento, privatização da esfera pública). Os mecanismos para a reversão de tal situação precisam ser identificados através de condutas metodológicas que busquem flagrar potencialidades para uma requalificação dos espaços públicos enquanto espaços de sociabilidades múltiplas e que identifiquem estratégias para um planejamento urbano que, ao invés de reforçar experiências homogeneizadas (e ao mesmo tempo fragmentárias), possa reforçar a produção da cidade enquanto lugar antropológico permeado de sentido e memória.
Canal privilegiado de comunicação e interação, é através do espaço da cidade que potencialmente a consolidação e as trocas culturais se estabelecem. A maneira como a cidade é percebida, ou levada a ser percebida é transpassada por discursos ideológicos que parecem naturalizar práticas culturais hegemônicas e simplificadoras.
Hoje, vive-se uma realidade que enfraquece o uso da cidade enquanto experiência vivida, acarretando apropriações frágeis e efêmeras. Numa sociedade de consumo centrada em imagens e aparências, a vida urbana tende a ser uma experiência regida pelos mesmos propósitos, a cidade tratada como espetáculo.
Busca-se, através deste texto, enfocar o espaço urbano enquanto locus de apropriação coletiva. De que modos os usuários da cidade transformam o espaço em LUGAR de pertencimento e elos identitários? O cotidiano da cidade sobrevive aos processos de espetacularização? Qual o destino de nosso LUGAR-COMUM (em oposição ao LUGAR-NENHUM)? Como conter/suavizar os processos contemporâneos de individuação que levam ao solapamento dos vínculos sociais e transformam o espaço em um NÃO-LUGAR?
Enquanto oposições binárias, poderíamos distinguir os termos como a seguir.
LUGAR é pausa e contato. É real e singular. Gera experiência. É espaço usado e vivido. NÃO-LUGAR é movimento e indiferença. É artificial e universal. Gera virtualidade. É espaço consumido e observado. A produção do lugar se efetiva a partir dos níveis de sentido que lhe atribuímos.
Em suma, é necessário refletir sobre as condições de nossa urbanidade e nossa sociabilidade. Refletir sobre as potencialidades e dificuldades para a qualificação e vitalização dos espaços e sobre a gestão cultural do espaço da cidade (entendida pelo valor de uso dos lugares, e não pelo valor de troca onde agora a própria cidade é tomada como produto a ser consumido de maneira efêmera).
A vida pública enseja a convivência com aquele que não conheço, mas que não excluo. Em contraponto, a vida privada –como o próprio termo aponta etnologicamente- pressupõe privar, ou estar privado (e nem um nem outro pode ser uma meta satisfatória). A cidade, em seu sentido clássico, sempre apresentou uma tríplice e importante composição de espaços: o público, o econômico e o cultural; o primeiro remetendo à ágora, o segundo ao mercado e o terceiro aos adros religiosos. Três espaços coletivos que indicam não mais existir plenamente. Os motivos? Pode-se arriscar alguns: a violência urbana desvitalizando praças e calçadas; shoppings e vendas à distância a transformar radicalmente nossas vitrines de exposição de produtos. E quanto ao terceiro, serão os novos modos culturais capazes de substituir as representações coletivas de outrora?
Enfim, devemos olhar a cidade como um enigma a ser decifrado, (re)conhecer seus valores “invisíveis”, enfocar paisagens urbanas como paisagens poéticas, ou seja, resgatar as poesia do urbano independente do moderno ou do antigo, e sim pelo cotidiano que nele se dá. Flagrar a cidade invisível da memória (labiríntica, ligada ao acaso, aos surtos de recomposição do passado) que se encontra superposta à cidade da razão. Uma cidade cujas singularidades encontram-se tanto no domínio da ordem (espacial) quanto da “desordem” das lembranças, nos detalhes que escapam das transformações urbanas. Recuperar nos reflexos especulares aquilo que “ilumina” os lugares comuns, os espaços cotidianos.
A história da modernidade buscou regimentar a esfera estatal como representante única da esfera pública. Pensamentos contrários buscariam articular a todo indivíduo três atuações básicas: pública, privada e íntima. Segundo o pensador português Boaventura de Souza Santos (1996) assiste-se, hoje, a uma hiperpolitização estatal e uma despolitização da vida cotidiana.
Podemos entender como ação pública aquilo que de nós pertence ou está voltado aos demais, dependendo mais da referência espacial em que se desenvolve. A não-clareza ou não-distinção entre as diferentes esferas leva a que lidemos com o outro através de posturas e sentimentos equivocados, por exemplo: o ódio é um sentimento íntimo; nossa relação com a violência então não deve ser vivenciada como ódio ao outro e sim como reivindicação corretiva e busca de mecanismos de segurança.
Não há, portanto, como dissociar a ação sócio-espacial de noções ligadas à cidadania, à justiça social, à afirmação de sociedade civil e da ação pública, ou mesmo à ética.
Por outro lado, e em reação a uma homogeneização cultural (de base norte-americana), tem-se ensejado o fortalecimento de políticas que fortaleçam o “local globalizado” em substituição ao “global indiferenciado”. Urge que busquemos fortalecer a apropriação dos espaços públicos, vendo-os como lugares potenciais de práticas culturais e de sociabilidade. O estar junto desinteressado e as condições físicas propícias a isso norteiam a noção de apropriação dos espaços, sobretudo os públicos e coletivos. As estratégias e objetivos a se buscar devem apontar para a identificação dos principais marcos afetivos e analisar as formas de uso e apropriação de espaços coletivos potenciais às práticas culturais e à dinâmica social da cidade; flagrar o LUGAR.
Entende-se essas práticas como elementos de desenvolvimento humano amplo, ou seja: produção de identidade cultural, desenvolvimento de relações sociais inclusivas, sedimentação do direito à cultura e à cidadania; vivenciar o LUGAR-COMUM.
Desde já um alerta: o que aqui se pretende ao falar de manutenção e resgate da memória nada tem a ver com certa tendência apontada por Andreas Huyssen (2000): “restauração historicizante de velhos centros urbanos, cidades-museus”. Não é a memória enquanto produto rentável da indústria cultural que deve ser buscada, e sim as relações mais interpessoais que o passado possibilitou e a desconstrução do não-sujeito pós-moderno – e seu NÃO-LUGAR - através do resgate da identidade.

Produção do espaço urbano - algumas questões.

ESPACIALIDADE E TURISMO


“O olhar percorre as ruas como se fossem páginas escritas:
a cidade diz tudo o que você deve pensar,
faz você repetir o discurso, e, enquanto você acredita
estar visitando Tâmara, não faz nada além de registrar
os nomes com os quais ela define a si própria e todas as suas partes.”

CALVINO, Ítalo. As cidades invisíveis.
São Paulo: Companhia das Letras, 1990. p. 18.


As reflexões aqui desenvolvidas buscam explorar posicionamentos norteadores de intervenções urbanas que tomem como base o resgate do espaço enquanto local de convivência, entendendo que “revitalizar” pressupõe reviver, garantir a plena “vida” do lugar: ou seja, sua plena possibilidade de usos compartilhados pelos mais diversos agentes sociais.
Parte-se do pressuposto que o espaço urbano pleno é aquele que possibilita uma apropriação múltipla que o consolide enquanto “lugar”, em direta oposição ao “não-lugar”. Certeau aponta que espaço é lugar praticado, pois ligado às pessoas. E Augé cunha a expressão não-lugar, designando “duas realidades complementares porém, distintas: espaços constituídos em relação a certos fins (transporte, trânsito, comércio, lazer) e a relação que os indivíduos mantém com esses espaços”. Espaços marcados pela efemeridade, por apropriações rarefeitas e momentâneas. O autor considera que a dimensão do não-lugar está contida em qualquer lugar, fato que leva a que o próprio residente possa se sentir um estrangeiro em sua própria terra, no seu próprio território.
Aponte-se, também, as reflexões de Yázigi na direção de se flagrar a “alma do lugar”. O lugar incorpora o cotidiano, caracteriza a parte e o reconhecimento de que esta está em certa autonomia em relação ao todo, ao conjunto mais amplo. O lugar existe a partir das relações de vários elementos, dos campos da biosfera, da cultura material e imaterial, da memória, das animações e das cognições. Em suma, tem sua poética própria, sua banalidade, efemeridade, singularidade e sotaque. Está articulado ao sentimento de pertencimento.
Entender a produção social do espaço como produção de lugar é, então, entender essa produção a partir de sua múltipla e diversificada carga semântica: qualquer espacialidade é rica de significados, assim como é rica e diferenciada a sua apropriação pelos diferentes atores sociais. Hoje, somos levados cada vez mais a perceber as cidades por signos de significados reduzidos. A Cidade é tomada por uma ou duas imagens (sem significado e sem conteúdo), reduzida drasticamente em sua possibilidade/vocação e em sua historicidade. Os viventes de uma cidade não são mais os cidadãos políticos que geraram a polis do mundo grego, ou a urbs romana. Nem ao menos um conteúdo coletivo como apresentam as cidadelas medievais é mais encontrado na cidade pós-industrial. Baudelaire registrava o flanêur da cidade do século XIX, porém, ao que tudo indica, os usuários das cidades deste início de milênio ainda guardam um sentido assentado no século passado que transforma o cidadão num simples voyeur.
Será esta indiferença a única possibilidade que poderemos esperar atualmente das cidades? Se for, então não cabe refletir a revitalização, pois o que deu vida às cidades foi o “estar junto”. Busco, ao contrário, abordar a possibilidade de dar vida aos lugares a partir dos usos coletivos neles partilhados e estimulados pelos mais variados e múltiplos motivos, inclusive o turístico e o do lazer espontâneo. Estar junto motivado por atividades culturais ou comerciais, pelo uso residencial ou institucional; enfim, estar junto. Creio que o modo de garantir e/ou estimular o livre encontro entre as pessoas é unir, o máximo possível, todos os motivos que atraiam as pessoas aos lugares coletivos.
A atividade turística está intimamente relacionada à questão urbana, seja potencializando lugares economicamente ativos, seja revalorizando locais economicamente abandonados. É uma atividade que se relaciona aos novos e/ou existentes equipamentos coletivos, à promoção comercial, à valorização simbólica, à geração de receitas e empregos, enfim, à geração de diversidade funcional no espaço.

O atual processo de globalização reforça e valoriza a diversificação, mas também homogeneíza valores. A atratividade turística deveria se dar, a princípio, pelas singularidades que criam identidades próprias aos lugares. Como entender a produção do espaço turístico que transforma os lugares em lugar-comum homogêneo, com as mesmas franquias multinacionais –por exemplo- espalhadas por todos os lugares? Qual a atratividade de se ir a Salvador e comer num fast food tipo Bob’s ou McDonald’s?
A produção da cidade é hoje regida por parâmetros de venda e consumo (e a atração turística os reforçam), traduzindo-se no que se denomina city-marketing.
Um dos grandes paradoxos do turismo é que ele pode levar à destruição dos próprios atrativos exercidos pelos territórios. Esse risco vem sendo reforçado, pois as sociedades contemporâneas têm se caracterizado por sociedades de consumo, regidas pelos preceitos do mercado, do lucro. Criam-se, assim, locais que não se constituem como territórios devidamente apropriados, não se constituem como “lugares”. Criam-se locais artificiais, cuja infraestrutura pode ser muito boa, mas que são locais indiferentes à região; turismo sem território.
A discussão sobre o lugar turístico não é muito diferente do que hoje acontece com a produção e apropriação de qualquer lugar. Lucrecia Ferrara chama de turismo dos deslocamentos virtuais a forma como os visitantes tendem a se relacionar com o espaço: de modo efêmero e superficial, atentando-se a recortes imagéticos que pouco ou nada traduzem do lugar em si. Efeito perverso da contemporaneidade, as formas de apropriação dos cidadãos com seus espaços cotidianos estão sendo marcadas, cada vez mais, pela rapidez, insegurança e superficialidade. Estamos perdendo nossa possibilidade de apropriação espacial marcada por relações interpessoais intensas e pela afetividade. A crescente mobilidade dos indivíduos no espaço e o esgarçamento da coesão social ganhou, nas palavras de Bauman, uma conotação metafórica bem oportuna: “Os turistas se movem porque acham o mundo a seu alcance (global) irresistivelmente atraente. Os vagabundos se movem porque acham o mundo a seu alcance (local) insuportavelmente inóspito”.
As reflexões sobre a cidade cruzam-se com diversas outras questões. A constituição da identidade é uma das importantes. Mas se deve buscar a construção de saberes que não se pautem apenas pela memória urbana, ou pela identidade cidadã. Ao contrário de uma tendência pós-estruturalista que procura negar e desconstruir a noção de sujeito, devemos pautar-nos por reflexões que tenham como um de seus nortes a constituição da identidade (e sua possibilidade/necessidade dentro dos processos em curso na atualidade).
Assim sendo, mais do que nos pautarmos pela carga sígnica e simbólica (fruto da pós-modernidade) ou pela carga icônica e histórica de determinados bens culturais, devemos estimular a percepção e compreensão da necessidade deles se incorporarem aos nossos espaços de vivência. O fenômeno da comunicação d massa (a TV a partir dos anos 60; a internet a partir dos anos 90) tem assentado um modelo unificador junto aos indivíduos. A extensão dessa unicidade é perversa, pois aponta a construção de um consenso no qual “estar fora” aguça o sentimento de exclusão (reforçado por um projeto político-ideológico neoliberal do “deixa estar”, do “fazer-se cada um por si”).
A falácia tecnicista não resolve o problema, sendo necessário o resgate de uma nova ética (ou melhor, da ética em si), cabendo à cultura e à identidade uma possibilidade de reordenação do acontecer social e de resgate da sociabilidade e da urbanidade. Porém, uma lógica ordenadora contrária à dos modernistas que setorizaram nossas cidades. A arquitetura pode ter um sentido ordenador sim, mas que deve ser utilizado para estimular usos. Usos diferenciados.

Refletindo sobre CAPITAL SOCIAL e sobre GOVERNANÇA

Capital Social
Capital Social está ligado à capacidade de interação entre os indivíduos de um grupo, inclusive com novos participantes do grupo, em diferentes situações (no trabalho, na vizinhança, na sociedade). Envolve a circulação de idéias e a (re)formulação de práticas. Pressupõe reconhecer o outro e os comportamentos, as intenções, valores, conhecimentos que compõem o meio social, e a capacidade de interagir em outros meios. Está intrínseco, nestas relações, compreender o papel das instituições nos meios sociais. Enfim, são as relações entre as pessoas e destas com as instituições –mediadoras destas interações- (clubes, igrejas, empresas, governos, famílias, escolas,...). Envolve as implicações da confiança e da aderência às normas que envolvem os indivíduos em associações locais e em redes, tanto as existentes quanto as potenciais; envolve o espírito gregário e de cooperação no interior dos grupos sociais. James Coleman e Robert Putnam estão entre os primeiros a analisar o capital social, e o definem como a coerência cultural e social interna de uma sociedade, as normas e valores que governam as interações.
O capital social, como visto, aponta para a capacidade dos grupos, e dos indivíduos de um grupo, se reconhecerem e confiarem uns nos outros. É, portanto, um elemento fundamental para o desenvolvimento de projetos coletivos. Está, intrinsecamente, articulado à identidade, à ética, à urbanidade e à democracia cultural e política.

Governança
Governança é um conceito que vai além da idéia de governabilidade. Enquanto esta última busca suporte político e econômico, a primeira pressupõe a participação da sociedade em gestões compartilhadas. Arranjos políticos e coligações partidárias podem aumentar a governabilidade. A capacidade técnica e o aporte financeiro fornecem importantes instrumentos de governo, mas não são suficientes. É necessário que haja o envolvimento dos diferentes atores sociais nos processos de elaboração de propostas e de execução de ações. É esse o quadro que vem se fortalecendo a partir dos anos 90. Os processos de redemocratização vieram acompanhados da idéia de se fortalecer e reconhecer os micro poderes. Governos locais, movimentos associativos e organizações não-governamentais vêm buscando estratégias para um caminhar conjunto. A criação de Conselhos é uma dessas estratégias.
Para que haja participação política e governança, é necessário que o Estado seja presente para toda a sociedade. Fato que nem sempre acontece, sobretudo no Brasil. E que os mais fortes não sobrepujam os mais fracos. Governança é mediação entre Governo e população. Faze-se através de instrumentos participativos e gestão descentralizada.
De nada adianta os governos “concederem” o direito à participação social (via Conselhos Comunitários, Orçamento Participativo, e outros), mas não criar condições amplas para o exercício e continuidade deste direito. Algumas metodologias podem ser apontadas: qualificação do quadro técnico, capacitação da população, estruturação dos equipamentos sociais pertinentes, ou seja organizar uma base técnica e material para o funcionamento dos instrumentos participativos.
Há, entretanto, uma longa estrada a ser vencida. Muitas ações de governo, nos seus diferentes níveis, ainda estão calcadas nos arranjos políticos e em ações verticalizadas. Muitas ONGs cumprem muito mais ausência do Estado nestes tempos de falácia-neo-liberal, ao invés de se constituírem como associações complementares e co-participantes nos processos sócio-políticos. Os conselhos são “novidades” crescentes, mas quais são seus níveis decisórios? Como são constituídos? Que níveis de confiança mútua se estabelecem?
O conceito de governança reforça a dimensão das mediações sociais. Buscar governança é ir além da eficácia administrativa, é ir na direção de se garantir níveis de representação e participação (não apenas política, mas social) nas ações de definição, planejamento e implementação de políticas públicas.
Alguns mecanismos podem ser evidenciados, de forma a aumentar a governança:
- criar bases locais e descentralizadas de poder decisório;
- garantir discussões dos problemas locais, de modo a permitir à sociedade identificar, e mesmo satisfazer, suas necessidades;
- potencializar os espaços públicos coletivos, para ampliar a urbanidade e a apropriação destes espaços;
- fomentar e esclarecer a concepção de um desenvolvimento local que se dê a partir do respeito às práticas culturais singulares;
- constituir e fomentar redes e capilaridades sociais;
- criar possibilidades para a experiência vivida e para o aumento da confiança nas relações entre as pessoas e entre estas e as instituições;
- capacitar a sociedade para ser protagonista nos processos de planejamento e tomada de decisão, assim como valorizar os conhecimentos locais;
- promover a interação entre técnicos e população, inclusive garantindo o retorno de conhecimentos advindos de pesquisas e operações especializadas.

Pensando a PARTICIPAÇÃO

Participação
Quem delega poderes não pode reclamar!
Para participar, é necessário fazer parte, estar incluído!
Participação e esfera pública são idéias inseparáveis. Fazem parte da própria concepção de Política.
É necessário refletir sobre o próprio termo Política. Política nos remete a polis –idéia grega que expressa a vida coletiva e o exercício de nossa esfera pública. Política, então, está referida às negociações entre os indivíduos, ao embate de nossos diálogos, às nossas falas/ações possíveis para além dos foros íntimo e privado, às nossas representações sociais coletivas. Entretanto, nossa cultura política encontra-se esgarçada em sua dupla composição: enquanto cultura e enquanto política. A cultura como representação simbólica dos valores das sociedades mostra-se esgarçada enquanto possibilidade de reforço da coesão social. Os processos que (con)formam as representações sociais estão ligados à ação comunicativa e às práticas sociais e públicas (em suma, ligados aos sistemas significantes, verbais e não-verbais), como os diálogos, os rituais, os processos produtivos, as instituições, as artes, os padrões culturais, ou sejam, as mediações sociais em seus diferentes espaços. Nossa sociedade informacional pós-industrial é uma sociedade da cultura de massa (e não da cultura das massas, com suas singularidades coletivas). Os recursos que ecoam nossas “falas” são amplos e velozes, e tecnicamente sofisticados. Mas não reverberam nossas práticas públicas e coletivas, uma vez que pouco as exercitamos. Portanto, antes de discutir se as políticas são eficientes ou não, é necessário estabelecer que critérios norteiam essa eficiência.
É do encontro entre esfera pública e esfera privada que se constrói as subjetividades necessárias para a construção da trama social. É no dia-a-dia e no engajamento entre os diversos agentes que se constituem as nossas representações sociais. A vida pública é um elemento intrínseco à plena construção da vida privada.
Pode-se destacar dois momentos paradigmáticos para a percepção da esfera pública: a cidade-estado grega e as mudanças na Europa do século XVIII à primeira metade do século XX. Na cidade-estado grega tem-se o fato de se compartilhar espaços comuns, da ligação através do convívio social, que pressupõe o domínio da ação, da política. Naquele momento, a esfera domiciliar ou privada era onde se vivia de acordo com as necessidades guiadas pela própria vida coletiva. Era em contraste à vida pública que se atribuía sentido ao privado. A importância e a necessidade do privado vinha para assegurar ao cidadão um espaço onde pudesse estar a sós. Destaca que muitas questões da vida humana exigem escolhas que só se darão em negociação na diversidade.
O segundo momento começa a se desenvolver com o surgimento da esfera pública burguesa, onde se tem uma nova relação entre público e privado. O primeiro vem como uma reivindicação para mudar a natureza das relações entre estado e sociedade. O íntimo, interior e outras questões afins surgem como realidades privadas que demandam um outro sentido nas sociedades em formação. O público passa a ser o Estado; o privado seria qualquer coisa fora da esfera do aparato estatal.
O que se percebe no mundo contemporâneo, e em especial no Brasil, é uma crescente perda de auto-gestão e uma banalização da esfera pública dos indivíduos. O quadro econômico de acirrado abismo social tende a reduzir ou quase anular a auto-estima das pessoas e sua auto-percepção e valorização pessoal, fato este que, por vezes, quase inviabiliza qualquer ação que busque uma requalificação social.
Creio que nosso desafio, hoje, é alcançar formas que -para além de preservar, democratizar e incentivar modos e práticas culturais diversificados- criem estratégias que reforcem o exercício público e político dos diversos atores sociais, onde todos e cada um possa ser protagonista de si mesmo.
Creio, firmemente, que nosso desafio é conseguir constituir redes diversificadas de agentes sociais. O próprio conceito de rede reforça a possibilidade de êxito de qualquer proposta. Rede que se estabelece a partir do comprometimento/envolvimento das mais diversas esferas. É este trabalho de “varejo” que pode efetivamente construir novas possibilidades de caminhos conjuntos. Uma ação que se desdobra nos usuários mais diretos e destes com suas redes mais particularizadas que, pouco a pouco, podem se agregar aos “fios” anteriores. Dessa nova trama se irradiará novos fios (que a ela se unem) e por aí vai
Portanto, todos os agentes sociais têm que estar envolvidos pela experiência direta, e não mediados por informações e representações não-presenciais (como vem acontecendo no mundo contemporâneo). O desenvolvimento de ações à margem de esferas governamentais pode fortalecer a ação individual ou de grupos no sentido do fortalecimento de suas representações sociais e de sua participação (um dos principais “nós” das ações na contemporaneidade). O auto-reconhecimento tende a fortalecer a independência do indivíduo e a reduzir a possibilidade de sua manipulação por outras esferas de poder que não o próprio poder da sociedade. Assim como os governos devem buscar ir além da governabilidade, na direção de um reconhecimento de que as forças que o sustentam não são apenas as das esferas econômica e política, os grupos sociais precisam ver/ter fortalecidas suas condições culturais, econômicas e políticas como requisitos necessários a sua reprodução. Fortalecer o (re)conhecimento de si aponta na direção de buscar exercer a plena cidadania, fortalecida pela incorporação de valores éticos que justifiquem a plena busca de nosso bem-estar e felicidade a partir do reconhecimento do outro (reconhecimento do Outro real, que não é um Outro mítico e todo-poderoso que anula a possibilidade do Eu).
A idéia básica de uma política deve ser a de garantir a todos os segmentos sociais –sobretudo àqueles social e economicamente excluídos- instrumentos mínimos para sua reprodução no mundo, reforçando a cidadania, a sociabilidade e o pleno convívio social.
E calcada no sentido duplo de reconhecer e estimular as relações de identidade e pertencimento.
O que mais justifica e possibilita a sustentabilidade (entendida como a possibilidade de continuidade das ações) é o envolvimento/reconhecimento das pessoas ou grupos sobre suas próprias condições de reprodução. O capital social é que cria as condições para que uma sociedade crie e desenvolva seus próprios fins, com governança e participação. Considerando que os projetos coletivos necessitam do engajamento de muitos, e isso será alcançado se respaldado pela confiança coletiva e, essa, pela capacidade de inclusão do outro como parceiro.

Batizado e troca de cordas de Capoeira

Uma das ações do PONTO DE CULTURA NITERÓI OCEÂNICO (MinC-Programa Cultura Viva) é a Roda de Capoeira desenvolvida com crianças, fruto de parceria com a Associação Cultural de Capoeira Roda Viva e com o Instituto Grão.
No próximo sábado, dia 16 de maio a partir de 14 horas, acontecerá o 2º batizado e troca de cordas da ACCRV, do qual participarão também as crianças do PC Niterói Oceânico. A cerimônia acontece na E. E. Profª Alcina Rodrigues Lima, em Itaipu.
Sintam-se todos convidados.

sábado, 2 de maio de 2009

INSTITUTO GRÃO - construindo redes compartilhadas

Em seu primeiro ano de existência, essa ONG já percorreu um trajeto que mostra que a coisa é séria. Desenvolveu ao longo de 2008 e mantém neste 2009 oficinas semanais de iniciação ao desenho artístico junto às crianças dos turnos da manhã e da tarde da escola municipal Prof. Ataliba em Itaipuaçu (Maricá) desenvolvidas pelo artista plástico e arte educador Marcelo Correia -de forma voluntária. Marcelo é o Presidente do Instituto Grão e vem viabilizando outras atividades neste colégio. O texto a seguir é uma carta aberta apresentada junto a atividades do Instituto num evento do Colégio Ataliba. Divulgo, pois compartilho e acredito nos propósitos sócio-culturais da organização.

Instituto Grão
Programas Ambientais e Ações Culturais
institutograo@hotmail.com (21) 9829.2308



O INSTITUTO GRÃO – Programas Ambientais e Ações Culturais foi fundado em fevereiro de 2008. É uma associação sem fins lucrativos que tem por finalidades promover e incrementar atividades culturais, sob todos os aspectos assim como, postular e procurar meios de melhores condições de qualidade ambiental e de vida, objetivando a sociabilidade dos indivíduos entre si e ações de valorização dos recursos materiais e imateriais de cunho sócio-cultural, artístico, educativo e ambiental.

O INSTITUTO GRÃO vem atuando em Itaipuaçu, junto à Escola Municipal Professor Ataliba de Macedo Domingues, desenvolvendo oficinas semanais de artes com alunos dos turnos da manhã e tarde.

Firmamos parceria com o Laboratório de Ações Culturais da Universidade Federal Fluminense e com o Ponto de Cultura Niterói Oceânico que integra o Programa Cultura Viva do Ministério da Cultura. São parcerias técnica e de trabalho, uma vez que os objetivos destas entidades se assemelham aos nossos: ampliar o acesso de crianças, jovens e adultos a atividades artísticas e culturais, assim como lutar por um mundo com mais responsabilidade pelos bens culturais e ambientais.

Nosso compromisso com Itaipuaçu vem nos mobilizando na busca por parceiros que venham a potencializar nos projetos sócio-culturais e ambientais. Algumas parcerias devem se iniciar em 2009, a exemplo do grupo de capoeira Roda Viva, do Mestre Kalb, que desenvolverá atividades junto a nós.

Ajudamos na concepção e produção do espetáculo Quem não dança... dança, do grupo Dançando no Ponto, dirigido por Elizete Mascarenhas, que nos devolve a gentileza desenvolvendo oficinas na “festa da família Ataliba” neste novembro de 2008.

Desejamos um bom proveito!
Marcelo Correia - Presidente