quinta-feira, 14 de maio de 2009

Pensando a PARTICIPAÇÃO

Participação
Quem delega poderes não pode reclamar!
Para participar, é necessário fazer parte, estar incluído!
Participação e esfera pública são idéias inseparáveis. Fazem parte da própria concepção de Política.
É necessário refletir sobre o próprio termo Política. Política nos remete a polis –idéia grega que expressa a vida coletiva e o exercício de nossa esfera pública. Política, então, está referida às negociações entre os indivíduos, ao embate de nossos diálogos, às nossas falas/ações possíveis para além dos foros íntimo e privado, às nossas representações sociais coletivas. Entretanto, nossa cultura política encontra-se esgarçada em sua dupla composição: enquanto cultura e enquanto política. A cultura como representação simbólica dos valores das sociedades mostra-se esgarçada enquanto possibilidade de reforço da coesão social. Os processos que (con)formam as representações sociais estão ligados à ação comunicativa e às práticas sociais e públicas (em suma, ligados aos sistemas significantes, verbais e não-verbais), como os diálogos, os rituais, os processos produtivos, as instituições, as artes, os padrões culturais, ou sejam, as mediações sociais em seus diferentes espaços. Nossa sociedade informacional pós-industrial é uma sociedade da cultura de massa (e não da cultura das massas, com suas singularidades coletivas). Os recursos que ecoam nossas “falas” são amplos e velozes, e tecnicamente sofisticados. Mas não reverberam nossas práticas públicas e coletivas, uma vez que pouco as exercitamos. Portanto, antes de discutir se as políticas são eficientes ou não, é necessário estabelecer que critérios norteiam essa eficiência.
É do encontro entre esfera pública e esfera privada que se constrói as subjetividades necessárias para a construção da trama social. É no dia-a-dia e no engajamento entre os diversos agentes que se constituem as nossas representações sociais. A vida pública é um elemento intrínseco à plena construção da vida privada.
Pode-se destacar dois momentos paradigmáticos para a percepção da esfera pública: a cidade-estado grega e as mudanças na Europa do século XVIII à primeira metade do século XX. Na cidade-estado grega tem-se o fato de se compartilhar espaços comuns, da ligação através do convívio social, que pressupõe o domínio da ação, da política. Naquele momento, a esfera domiciliar ou privada era onde se vivia de acordo com as necessidades guiadas pela própria vida coletiva. Era em contraste à vida pública que se atribuía sentido ao privado. A importância e a necessidade do privado vinha para assegurar ao cidadão um espaço onde pudesse estar a sós. Destaca que muitas questões da vida humana exigem escolhas que só se darão em negociação na diversidade.
O segundo momento começa a se desenvolver com o surgimento da esfera pública burguesa, onde se tem uma nova relação entre público e privado. O primeiro vem como uma reivindicação para mudar a natureza das relações entre estado e sociedade. O íntimo, interior e outras questões afins surgem como realidades privadas que demandam um outro sentido nas sociedades em formação. O público passa a ser o Estado; o privado seria qualquer coisa fora da esfera do aparato estatal.
O que se percebe no mundo contemporâneo, e em especial no Brasil, é uma crescente perda de auto-gestão e uma banalização da esfera pública dos indivíduos. O quadro econômico de acirrado abismo social tende a reduzir ou quase anular a auto-estima das pessoas e sua auto-percepção e valorização pessoal, fato este que, por vezes, quase inviabiliza qualquer ação que busque uma requalificação social.
Creio que nosso desafio, hoje, é alcançar formas que -para além de preservar, democratizar e incentivar modos e práticas culturais diversificados- criem estratégias que reforcem o exercício público e político dos diversos atores sociais, onde todos e cada um possa ser protagonista de si mesmo.
Creio, firmemente, que nosso desafio é conseguir constituir redes diversificadas de agentes sociais. O próprio conceito de rede reforça a possibilidade de êxito de qualquer proposta. Rede que se estabelece a partir do comprometimento/envolvimento das mais diversas esferas. É este trabalho de “varejo” que pode efetivamente construir novas possibilidades de caminhos conjuntos. Uma ação que se desdobra nos usuários mais diretos e destes com suas redes mais particularizadas que, pouco a pouco, podem se agregar aos “fios” anteriores. Dessa nova trama se irradiará novos fios (que a ela se unem) e por aí vai
Portanto, todos os agentes sociais têm que estar envolvidos pela experiência direta, e não mediados por informações e representações não-presenciais (como vem acontecendo no mundo contemporâneo). O desenvolvimento de ações à margem de esferas governamentais pode fortalecer a ação individual ou de grupos no sentido do fortalecimento de suas representações sociais e de sua participação (um dos principais “nós” das ações na contemporaneidade). O auto-reconhecimento tende a fortalecer a independência do indivíduo e a reduzir a possibilidade de sua manipulação por outras esferas de poder que não o próprio poder da sociedade. Assim como os governos devem buscar ir além da governabilidade, na direção de um reconhecimento de que as forças que o sustentam não são apenas as das esferas econômica e política, os grupos sociais precisam ver/ter fortalecidas suas condições culturais, econômicas e políticas como requisitos necessários a sua reprodução. Fortalecer o (re)conhecimento de si aponta na direção de buscar exercer a plena cidadania, fortalecida pela incorporação de valores éticos que justifiquem a plena busca de nosso bem-estar e felicidade a partir do reconhecimento do outro (reconhecimento do Outro real, que não é um Outro mítico e todo-poderoso que anula a possibilidade do Eu).
A idéia básica de uma política deve ser a de garantir a todos os segmentos sociais –sobretudo àqueles social e economicamente excluídos- instrumentos mínimos para sua reprodução no mundo, reforçando a cidadania, a sociabilidade e o pleno convívio social.
E calcada no sentido duplo de reconhecer e estimular as relações de identidade e pertencimento.
O que mais justifica e possibilita a sustentabilidade (entendida como a possibilidade de continuidade das ações) é o envolvimento/reconhecimento das pessoas ou grupos sobre suas próprias condições de reprodução. O capital social é que cria as condições para que uma sociedade crie e desenvolva seus próprios fins, com governança e participação. Considerando que os projetos coletivos necessitam do engajamento de muitos, e isso será alcançado se respaldado pela confiança coletiva e, essa, pela capacidade de inclusão do outro como parceiro.

2 comentários:

  1. Excelente argumentação. Enquanto não for restaurada a cidadania a todos os segmentos, as idéias de governaça e participação nunca se tornarão práticas.
    Os setores excluídos estão de certa forma "conformados" com suas precárias condições. É um ciclo vicioso, onde os mais necessitados perdem suas vozes, e quanto mais afônicos, mais necessitados ficam.
    Essa baixíssima auto-estima impossibilita que eles consigam as reformas necessárias para reverter essa situação. São necessárias políticas públicas focadas nos atores sociais, de forma a capilarizar os mecanismos necessários a valorização do indivíduo e, consequentemente, da criação e desenvolvimento de seus próprios fins.

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